lunes, 27 de noviembre de 2006

Mário Cesariny




Ontem às onze fumaste um cigarro
encontrei-te sentado ficámos para perder
todos os teus eléctricos os meus estavam perdidos
por natureza própria

Andámos

dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes

O Público
o vinco das tuas calças

cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso

Não
faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem

o estranho verbo nosso

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